Pimenta da Tapera é destaque em programa da Rede Globo

Derllânio Telécio | 09:24 | 0 comentários

Há dez anos, o engenheiro José Roberto da Fonseca reuniu um grupo de amigos. Juntos, eles fundaram o Instituto Eco-Engenho, que mudou a vida de uma comunidade na cidade sertaneja de São José da Tapera.
A ONG usa a tecnologia para transformar a realidade dos moradores do povoado Baixas. O projeto de plantação hidropônica virou fonte de renda para as famílias da comunidade e, por isso, a apresentadora Regina Casé abre hoje o seu programa "Esquenta", da Rede Globo, mostrando o trabalho do engenheiro José Roberto da Fonseca.
Metade das famílias do semi-árido nordestino, região com 25 milhões de habitantes, vive com menos de meio salário mínimo e registra uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do Brasil. O sol sempre foi o vilão do lugar. Mas foi a partir dele que a transformação chegou à comunidade de Baixas, no município de São José da Tapera, interior de Alagoas.
Há alguns anos, a maior parte das casas de São José da Tapera era feita de taipa. Metade da casa da agricultora Marinês da Silva é feita de tijolo e a outra metade ainda é de taipa. A água entra pelo teto e na cozinha os alimentos ficam expostos porque não tem luz, nem refrigerador. O banheiro fica na parte de fora da casa. “Eu queria ter minha casa ajeitada. Ter uma casa dessas faz até vergonha o povo chegar”, lamenta.
Inconformado com essas situações, há dez anos, o engenheiro José Roberto da Fonseca reuniu um grupo de amigos. Juntos, eles fundaram o Instituto Eco-Engenho.
“Em uma reunião de profissionais diversificados, como engenheiros, biólogos, economistas e arquitetos, formou-se um grupo que resolveu criar a ONG,com a finalidade de usar a tecnologia para a inclusão social e desenvolvimento sustentável", destacou José Roberto Fonseca, fundador do Instituto Eco-Engenho.
"O Eco-Engenho foi um nome que eu inventei para tentar consolidar essa história de ecologia com engenharia, que é também um pouco da minha origem”, explica Fonseca.
Naquela época, o município de São José da Tapera, a 240 quilômetros de Maceió, tinha o pior índice de desenvolvimento humano do Brasil e a comunidade de Baixas era apontada como a mais pobre da cidade. Em 2006, o Eco-Engenho criou o Projeto H2Sol.
“O sol é o maior fornecedor de energia da terra e esse pessoal tem esse presente. A gente tem uma tecnologia que pode fazer a luz do sol bater, gerar energia e trazer a água debaixo da terra. Essa água a gente vai fazer um jeito com ela”, esclarece Fonseca.
O projeto também criou um sistema para trazer água da nascente de um morro próximo. “Não bastava a água. Um agrônomo que se incorporou ao grupo disse que tinha um modelinho de cultivo hidropônico com garrafinhas pet. Eu digo que essa é a grande luz porque eu não gasto muita água infiltrando no solo nem por evaporação. Então, toda pouca água que eu tenho, eu faço recircular com nutriente, passando exclusivamente na raiz da planta”, explica Fonseca.
Então, surgiu a ideia de plantar pimenta, capacitar as moradoras e fabricar um vinagrete especial. “Quando foi para mim eu falei ‘meu Deus, logo pimenta; o que nós vamos fazer com pimenta?’. Eu achava que era uma coisa que não tinha comércio para pimenta. Mas, graças a Deus, abaixo de Deus foi a pimenta”, diz a agricultora Josefa.
“A pimenta mudou a minha vida. Antes, o trabalho da gente era só de viver”, diz a agricultora Maria Cleide de Souza.
“Para uma renda familiar de R$ 90, teve período que eles tiraram acima do salário mínimo”, calcula Fonseca.
“Antes a gente tinha que trabalhar na roça para poder comprar roupa ou calçado. Hoje, a gente tem com o que comprar”, compara a agricultora Marcicleide Alves dos Santos.
Em 2008, a comunidade de Baixas ganhou a ajuda da ONG Amigos do Bem, que construiu casas para os moradores da região.
“Eles batizaram pimenta da tapera. Esse foi outro grande lance. Poderia ter inventado uma coisa mais sofisticada, mas o que valeu foi que o rótulo e o nome tiveram a cara deles”, diz Fonseca.
São as mulheres que levam o projeto adiante. “Homem jamais faria isso de deixar bonitinho colocando uma metade de amarela e uma metade de vermelha, ambas com cortes mais ou menos finos. Na mão das mulheres é muito mais organizado. Elas estão comprando as coisas para as crianças e organizando a casa”, esclarece Fonseca.
A pimenta produzida em São José da Tapera foi parar em Maceió, Alagoas. Os potinhos de pimenta estão em supermercados e hotéis. “O mais importante não é o produto, mas o que está por trás dele. Quando a gente explica que se trata de um projeto social de muita relevância, a gente acaba atingindo um índice de venda bem razoável”, diz Dawis Alves de Oliveira, recepcionista de hotel.
“Produzimos um prospecto que convida a pessoa a ser um consumidor solidário. Tem algumas pessoas que ainda pedem mais. Normalmente, a gente coloca duas pimentas num apartamento e o hóspede chega à recepção e pede mais”, explica Mauro José Vasconcelos, dono do Hotel Ponta Verde.

Diário de Arapiraca

:

:

0 comentários